sexta-feira, novembro 25, 2005

Garota festeira realiza revolução online da China.

Mu Mu faz poses para a web cam, fala de sexo, intelecto e política. Desde julho, o seu blog é acessado por dezenas de milhares

Howard W. French
Em Xangai, China




O seu blog estava no ar havia quatro dias apenas, e, ao atualizá-lo, ela se apresentou ao mundo de maneira surpreendente, nos termos seguintes: "Eu sou uma dançarina, e sou membro do Partido".

"Eu não sei se posso ser considerada como uma dançarina 'Web cam' bem-sucedida", prosseguia ela neste texto inicial. "Mas estou certa de que se eu olhar para outras dançarinas pelo mundo afora, posso até mesmo não ser aquela que tem o diploma mais elevado, mas sou definitivamente a garota que mais lê e que pensa com maior profundidade, e, com certeza quase absoluta, sou a única dentre elas a ser membro do partido".

The New York Times
Imagens que Mu Mu posta em seu blog
Foi assim que nasceu, no início de julho, aquilo que muitos consideram como o blog o mais popular da China.

Às vezes, o timing é tudo, e este foi o caso com esta blogueira anônima, que se descreve como membro do Partido Comunista, oriunda de Xangai, e se apresenta sob o pseudônimo de Mu Mu.

Uma mulher de 25 anos, Mu Mu vai ao ar no endereço blogcn.com/user48/wunv6/blog/index.html, quase todas as noites, por volta da meia-noite. Ela mantém seu rosto coberto enquanto ensaia poses que são provocantes, porém nunca sexualmente explícitas.

Ela contorna as perguntas de alguns dos seus fãs e seguidores ávidos, que são dezenas de milhares, com atitudes espirituosas e um charme desenvolto.

Na China, as páginas na Internet já existem desde o início desta década, mas o formato explodiu nos últimos meses, desafiando os sempre vigilantes censores online chineses e dando consistência e forma humana ao tipo de sociedade civil com liberdade de expressão cuja emergência o governo há muito está determinado a impedir ou, ao menos, a controlar com firmeza.

Os especialistas em Internet afirmam que esta explosão dos blogs é o resultado do forte crescimento da utilização da banda larga, somada aos enormes avanços comerciais obtidos pelos provedores de Internet do país, que estão empenhados em seduzir e conquistar seus usuários.

As estimativas mais comuns da quantidade de blogs existentes na China vão de 1 milhão a 2 milhões, números esses que seguem aumentando rapidamente.

Sob o regime do atual líder da China, Hu Jintao, o governo empreendeu uma campanha enérgica contra a liberdade de expressão, proibindo que intelectuais de notoriedade pública sejam promovidos pelos veículos de informação; impondo restrições a websites; pressionando companhias que desenvolvem softwares de busca, tais como o Google, a excluírem tópicos delicados, em particular aqueles que dizem respeito à democracia e aos direitos humanos; e censurando pesadamente os grupos de discussões online nas universidades e em qualquer outro lugar.

Até agora, as autoridades chinesas contaram, sobretudo, com a cooperação das empresas provedoras de serviços na Internet para policiar os blogs e outras publicações online.

Qualquer comentário que seja provocativo demais, ou que seja excessivamente crítico para com o governo não raro é censurado pelo provedor. Às vezes, os sites recebem uma enxurrada de comentários contraditórios - muitos acreditam que eles sejam enviados pelos censores oficiais --que são mais favoráveis ao governo.

Em certos casos, os blogs são desativados de uma só vez, temporário ou permanentemente. Mas as autoridades ainda não parecem ter uma resposta à proliferação da opinião pública por meio deste formato.

A nova onda de blogs teve início neste ano. No passado, alguns poucos pioneiros desta forma de expressão se sobressaíram, mas agora, imensas comunidades de blogueiros estão se multiplicando por todo o país, muitos dos quais promovendo as ofertas online dos seus concorrentes e amigos que vendem livros, discos ou, como no caso de Mu Mu, comentários em fluxo contínuo sobre sexualidade, intelecto e identidade política.

"Os novos blogueiros estão replicando às autoridades, mas de uma maneira humorística", explica Xiao Qiang, o diretor do grupo de estudos China Internet Project (Projeto de Internet para a China), baseado na Universidade da Califórnia, em Berkeley. "As pessoas dizem quase sempre que você pode dizer o que quiser na China, quando sentado à mesa durante o jantar. Mas não em público. Agora, os blogs se tornaram mesas de jantar, e isso é uma novidade".

"O conteúdo é com freqüência político, mas não diretamente político. Ou seja, a pessoa não está defendendo nenhuma idéia, mas, ao mesmo tempo, ela está minando a base ideológica do poder".

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