terça-feira, novembro 08, 2005

Confrontos na França chegam ao 11º dia e expõem fragilidade de modelo social.

Da Redação

Trinta e quatro policiais feridos, 4.700 veículos incendiados, cerca de 1.200 detidos e um civil morto. Este é o resultado da violência iniciada no dia 27 de outubro por moradores do subúrbio de Paris e que já se espalha por 300 localidades na França _entre bairros, distritos e cidades. A polícia pediu hoje ao governo do país que imponha um toque de recolher nas áreas mais afetadas e chame as Forças Armadas para controlar a situação.

Em um comunicado, o sindicato dos policiais disse que os eventos não têm precedentes desde o fim da Segunda Guerra. A polícia suspeita que militantes extremistas islâmicos estejam por trás dos confrontos. Por sua vez, líderes muçulmanos das comunidades árabes e africanas da França emitiram uma fatwa, ou decreto religioso, condenando os distúrbios.

Nesta segunda-feira, o ministro do Interior da França, Nicolas Sarkozy, chamou os envolvidos nos distúrbios de "hooligans" e "criminosos". Mas uma pesquisa divulgada pelo jornal francês "Le Parisien" mostrou que Sarkozy, que antes classificou os manifestantes de "escória" e é pré-candidato à sucessão presidencial, tem 57% de aprovação em todo país.

De acordo com o editor-chefe da BBC Brasil em Londres, Rogério Simões, a situação do ministro do Interior, que também é responsável pela polícia francesa, é "extremamente difícil". "Caso ele consiga rapidamente recolocar a ordem no país todo e evitar novos ataques como o que temos visto, sua figura pode ser fortalecida. Mas ele tem sido alvo de muitas críticas, principalmente da oposição socialista, que o acusam de ter inflamado os ânimos dos jovens rebeldes e já vem inclusive exigindo seu cargo", afirma.

Imagem abalada

Governos de diversos países emitiram alertas de segurança a respeito de visitas à França, país que mais recebe turistas no mundo. O primeiro-ministro Dominique de Villepin anunciou nesta segunda-feira um plano de ação emergencial para tentar recompor a ordem no país.

Para o editor-chefe da BBC Brasil em Londres, no entanto, a imagem da França já foi abalada pela crise. "A imagem de berço dos direitos humanos, da "igualdade, liberdade, fraternidade" já foi abalada. Não pela violência em si, mas pelo que está por trás da violência, como admitiu o próprio Sarkozy: a fragilidade do modelo social francês de integração", afirma.

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Os confrontos de rua começaram em 27 de outubro passado, quando dois adolescentes de origem africana morreram eletrocutados ao se esconderem dentro de um transformador de energia, após uma suposta perseguição policial, versão que é negada pelas autoridades francesas.

Os locais onde ocorrem as manifestações são ocupados em sua maioria por famílias de imigrantes árabes e africanos. A França abriga 5 milhões de muçulmanos, e tem a maior população islâmica da Europa Ocidental.

Problema social exposto

Segundo Rogério Simões, o país é hoje uma demonstração do tamanho dos problemas econômicos e sociais enfrentados pela União Européia. "Países europeus olham para a França com preocupação, achando que o mesmo tipo de confronto social pode se repetir em outros lugares."

Ele afirma que a intenção do primeiro-ministro francês é não apenas impor a ordem pública, mas anunciar planos de ação que trabalhem o aspecto social das populações mais carentes. "O problema social está sendo exposto por essa crise. As autoridades francesas repensam o modelo de integração da sociedade que inclua não só imigrantes, mas seus filhos e netos que, apesar de nascidos na França, vivem em subúrbios mal atendidos, com educação precária", diz.

De acordo com Simões, a taxa de desemprego no país, que é de 10%, chega a 25% entre os mais jovens. "São estes jovens de 17, 18 anos que estão incendiando ônibus porque não vêem perspectivas de participar da sociedade e da economia francesas."

O problema, segundo o jornalista, é o grande desafio para o presidente Jacques Chirac que, no final de seu mandato, não quer entrar para a história como o governo onde ocorreu a maior crise desde a Segunda Guerra.

Um comentário:

Anônimo disse...

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