terça-feira, novembro 15, 2005

Cantores só usam camisa porque estão gordos

ANTONIO FARINACI
Editor de UOL Música

No palco, sempre sem camisa, ele se bate, literalmente se joga, se machuca e grita que quer ser um cachorro. Já em casa, ele prefere a voz suave da brasileira Astrud Gilberto, e acalenta o sonho de gravar um disco de jazz. Este é o pioneiro do punk, Iggy Pop, 58.

Prestes a fazer um show em São Paulo e um no Rio, acompanhado pela antológica banda The Stooges, com quem começou a carreira, no final dos anos 60, Iggy, ou James Osterberg (seu nome de batismo), conversou por telefone com UOL Música.

Na entrevista, o cantor americano falou sobre esta sua segunda vinda ao país (a primeira foi em 1988), sobre seus gostos musicais e sobre seu costume de se apresentar sempre sem camisa: "Cantores só usam camisa porque estão gordos", brincou.

Sobre os shows no Brasil, nos dias 26 e 27 de novembro, dentro da programação do festival Claro Que É Rock, o cantor disse apenas que tocará com o grupo com que fez o álbum "Fun House", em 1970, considerado o melhor dele com os Stooges: "Isto basta".


UOL Música - Alguém ainda te chama de James (James Newell Osterberg, nome real do cantor)?
Iggy Pop - Tem gente que me chama de James, tem gente que me chama de Jim, tem gente que me chama de Iggy, tem gente que me chama de cretino, de fracassado! Me chamam de tudo...

UOL Música - De onde veio o nome Iggy Pop?
IP - Iggy vem de Iguana, o nome do primeiro grupo que eu tive (The Iguanas). A gente tinha um empresário péssimo, e ele ficava me chamando de Iggy, como um diminutivo de iguana. E eu nunca consegui me livrar desse nome. Pop era o nome de um cara que eu conhecia, que cheirava cola. Eu gostei do nome e roubei dele.

UOL Música - Você tem uma voz grave incrível. Nunca pensou em fazer um disco de jazz, algo assim?
IP - Sim! Eu ainda quero fazer isso. Mas o Rod Stewart já está fazendo, no momento, então vou esperar um pouco. Mas é uma coisa que eu quero muito de fazer. De verdade.

UOL Música - De que cantores você gosta?
IP - Adoro Julie London, Frank Sinatra... Sabe, eu adoro a Astrud Gilberto. Adoro aquele disco dela com o Stan Getz. Uma vez eu fui ver um show dela, no S.O.B. (clube de música brasileira em Nova York), e fiquei puto! Ela não cantou nenhuma música antiga! Só queria cantar músicas novas. E eu pensava: "Não! canta uma antiga!"

UOL Música - Então você gosta de bossa nova?
IP - Gosto. Não é o tipo de música que eu faço, mas eu gosto de ouvir em casa. Eu ouço música de tudo quanto é tipo. Eu ouço muita música cubana também, música de rituais religiosos, de vodu, que eu sei que vocês também têm no Brasil, com outro nome. Cerca de 75% do que eu ouço em casa é música negra ou de gente que já morreu. Mas eu também ouço coisas como Lotte Lenya (cantora austríaca de música de cabaré, que foi casada com Kurt Weill), que é uma música extremamente branca...

UOL Música - Qual o seu disco favorito do Iggy Pop?
IP - É "The Idiot" (1977). Porque nele eu comecei a usar a voz de um jeito completamente diferente do que eu fazia antes. E também porque as composições, que foram feitas em parceira com o David Bowie, têm mais profundidade.

UOL Música - Você e o Bowie ainda são amigos?
IP - Faz tempo que a gente não se fala, mas eu imagino que ele ainda se interessa por aquilo que eu faço...

UOL Música - E você se interessa pelo que ele faz hoje em dia?
IP - Sim, eu sempre ouço. Não é algo que eu fique ouvindo um monte de vezes, mas eu sempre tenho interesse em saber o que ele está fazendo. Mas é muito difícil ter objetividade, pois eu já estive muito envolvido com a música dele. Então, hoje, eu prefiro outras coisas.

UOL Música - Você gosta de regravações de músicas suas feitas por outros artistas? A Grace Jones regravou "Nightclubbing", a Siouxsie regravou "The Passenger"...
IP - O cover de que eu mais gosto é o da Grace Jones. Porque ela é fantástica. Eu sempre gosto dela. E a produção de Sly e Robbie é simplesmente perfeita. Eu adoro.

UOL Música - Você sabia que um grupo brasileiro (Capital Inicial) regravou "The Passenger" em Português?
IP - Sim. Eu ouvi falar, mas nunca ouvi a gravação.

UOL Música - As suas apresentações exigem muito esforço físico. Como você se prepara para elas?
IP - Eu não vou à academia, não levanto pesos nem nada parecido. Nunca fiz isso. Eu faço uma rotina de exercícios chineses que me mantêm em forma, meia hora por dia, nada além disso.

UOL Música - Você sempre cantou sem camisa?
IP - Desde o meu segundo show, em 1968. É uma coisa que eu tomei emprestado dos artistas do rhythm and blues antigos. Tinha uma época em que artistas como o James Brown, o Jackie Wilson, começavam o show com uma camisa bem justa, de tecido meio transparente. Durante o show eles iam abrindo a camisa, e, às vezes, a rasgavam. As fãs ficavam loucas! E eu pensei... Bem, por que não começar o show já sem camisa?! Daí em diante eu sempre fiz show sem camisa. Só lá pelo meio dos anos 80, quando eu dei uma engordada, é que eu usei camisa em alguns shows. Esse é o único motivo pelo qual os cantores usam camisa! Porque estão gordos!

UOL Música - Você entrou na onda da música digital?
IP - Eu tenho um iPod porque eu ganhei de Natal da minha gravadora. Eu acho incrível, o som é ótimo. Mas eu não gosto daquele som entrando na minha cabeça por um botãozinho dentro do meu ouvido. Eu acho legal ter um iPod pra não ficar tão de fora do que as pessoas estão fazendo hoje em dia. Mas eu gosto mesmo é de ouvir música pela casa. E com mais gente. Eu não gosto muito nem de ouvir música no carro.

UOL Música - Você gosta das novas bandas influenciadas pelo punk, como Franz Ferdinand, TV on the Radio, Bloc Party, Interpol...
IP - Das bandas que você citou, só conheço o Franz Ferdinand e o Interpol. Acho que o Franz Ferdinand é uma banda com muita habilidade na composição, naquela tradição inglesa, que, de modos diferentes, estava presente no trabalho do Depeche Mode, do Suede e do Duran Duran. Não é o tipo de música de que eu mais gosto, sabe? Mas eu tenho que admitir a habilidade deles. Já o Interpol é uma banda que, ao meu ver, tem menos habiliadde na composição e segue por uma linha mais Joy Division, mais pesada. Mas não é o tipo de música que me faça sair pulando e gritando: "Ei! Esse som salvou a minha vida!!!" Mas, pelo menos, é melhor do que The Killers, que me faz querer vomitar...

UOL Música - Então o que te faz sair pulando e gritando hoje em dia?
IP - Olha... Tem uma banda que eu adoro, chamada Brian Jonestown Massacre. Eu vi um documentário sobre os Dandy Warhols, "Dig!" (clique aqui para assistir ao trailer), e, no filme, todo mundo ficava falando que o vocalista desse grupo (Anton Newcombe) era um cretino! Daí eu fiquei morrendo de vontade de ouvir alguma coisa deles e arrumei um disco. E parece que o cara é um cretino mesmo. Mas o som é ótimo.

UOL Música - Qual a diferença de tocar com os Stooges hoje e há 30 anos?
IP - Nenhuma! Não é estranho? A gente é muito estranho mesmo...
As únicas diferenças é que hoje a gente dorme em camas e não usa mais tantas drogas...

UOL Música - Por que vocês voltaram a gravar?
IP - Acho que já existem discos demais do Iggy Pop. É uma chance para as pessoas comprarem discos dos Stooges...

UOL Música - Você gosta quando as pessoas chama vocês de "chefões" do punk?
IP - Acho uma besteira.

UOL Música - Por que?
IP - Ah... Porque sim. Parece um nome de filme barato dos anos 70. "O Poderoso Chefão" e o "Poderoso Chefão do Punk". É ridículo.

UOL Música - O que vocês vão tocar no show no Brasil?
IP - Ah... Isso eu não vou dizer. Eu só posso dizer que estou com os mesmos Stooges com quem fiz o disco "Fun House" (1970). Basta.

Um comentário:

Anônimo disse...

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