Ótimos DJs no line-up, estrutura beirando a perfeição e um excelente sistema de som eram os ingredientes para fazer da primeira edição do Creamfields em solo brasileiro um sucesso absoluto. Entretanto, a ausência de um público maior de certo modo ofuscou o evento: das 20 mil pessoas aguardadas, especula-se que menos da metade tenha comparecido ao Autódromo Internacional de Curitiba, localizado no município de Pinhais (a 20 minutos do centro da capital paranaense).
Um grande número de bares e banheiros garantiu a ausência de filas, e havia também uma praça de alimentação com boas opções. As atrações dividiram-se em dois locais: um palco a céu aberto, o “Outdoor Stage”, e uma tenda fechada, a “Skol Club”. Ao lado do palco principal, um grande espaço foi reservado para a área VIP, que permaneceu praticamente vazia durante todo o festival. Destaque para o sistema de som, que em nenhum momento falhou e estava em um ótimo volume.
O “Outdoor Stage” lembrava em muito o palco que se vê no Skol Beats: muito grande, com telões nas laterais e atrás dos toca-discos. As imagens foram uma atração à parte. A tenda “Skol Club” também fez os presentes se recordarem do festival paulistano, seja pelo formato, seja pelos anúncios da cervejaria. O ponto mais positivo ficou por conta de três telões que transmitiam imagens dos mixers e toca-discos em diferentes ângulos.
As apresentações dos DJs estrangeiros não fugiram às expectativas, mas ao mesmo tempo não as superaram. Os destaques ficaram por conta de Infusion, Danny Howells e Hernan Cattaneo, argentino que há dois anos figura no rol dos top 10 da revista DJ Mag. Danny Tenaglia não chegou a surpreender, assim como Kevin Saunderson. Por parte dos brasileiros, muitos dos DJs apresentaram bons sets mas para poucas pessoas; Ilan Kriger, Júlio Torres e Fabrício Peçanha se mostraram muito competentes.
Quanto ao público, muita gente se perguntou se a presença de um “headliner” mais popular como “The Prodigy”, que irá se apresentar na edição argentina do Creamfields, não poderia ter atraído maior público ao local. Também foi questionado o preço dos ingressos, que variava de R$ 40,00 (meia-entrada antecipada) a R$ 100,00 (ingresso no dia da festa), quase o equivalente ao Skol Beats, maior evento do gênero no país e em proporções consideravelmente maiores.
Tanto o palco como a tenda permaneceram com pouco público até o início da madrugada e posteriormente encheram, mas em nenhum momento ficaram lotados. Ficou a nítida impressão de que o curitibano não assimilou o conceito do festival e deixou para chegar muito tarde no Autódromo. Sem dúvida alguma uma pena, tendo em vista o capricho na organização e a qualidade em geral das apresentações. A organização do evento ainda não se pronunciou quanto à realização do Creamfields em 2006.
Infusion fez live empolgante
No Outdoor Stage os DJs brasileiros que se apresentaram no início da festa não tiveram grande audiência. Ilan Kriger se destacou pelas produções próprias e por remixes funkeados. O argentino Zuker XP apostou na fórmula que o consagrou no país vizinho, e sua apresentação contou com muito rock em meio a batidas eletrônicas. Já o francês David Guetta, responsável pelo selo Fuck me I'm famous, conseguiu levantar o público, que àquele momento já estava em melhor número. Sem muita criatividade, Guetta iniciou e encerrou seu set com a faixa de sua autoria “The world is mine”, e tocou majoritariamente hits, tais como “So many times”, de Gadjo.
A dupla local Leozinho e Paciornick conseguiu manter animada a pista principal, que já sofria com o frio que fazia na madrugada. Após uma hora e meia de apresentação, os curitibanos cederam espaço ao trio Infusion. Interagindo continuamente com o público e muito empolgados, os australianos certamente foram os responsáveis pelo ápice do Outdoor Stage, deixando pouca gente parada. Depois de mesclar faixas como “Girls can be cruel” com trabalhos de seu último álbum “Six Feet Above Yesterday”, o Infusion se despediu com a clássica “The dead heart”, dos conterrâneos do Midnight Oil, com direito a bis.
Fabrício Peçanha se apresentou na seqüência e confirmou que possui muita identidade com o público local, a ponto de fazer mais sucesso que muitos DJs curitibanos que se apresentaram no evento. Como o Infusion se estendeu por cerca 15 minutos além do horário previsto, o gaúcho não teve mais que uma hora para mostrar seu trabalho, e foi surpreendido com a companhia de Kevin Saunderson, que pôs fim precocemente ao set do brasileiro. O ícone de Detroit repetiu as últimas apresentações no Brasil e não primou pela qualidade nas mixagens ou no repertório. Seguindo uma tradição de muitos DJs de tecno estrangeiros que visitam o país, Saunderson tocou “Pontapé”, em remix de Carl Cox, o que surtiu bom efeito na pista.
Quando Anderson Noise assumiu o encargo de encerrar a festa no palco principal, boa parte do público já se concentrava na tenda Skol Club, já que Hernan Cattaneo se apresentava naquele local. Noise certamente foi o DJ que pesou mais nas batidas, o que pode não ter sido a melhor opção para o horário. Pontualmente às 8:30 da manhã de domingo o brasileiro se despediu, encerrando o Creamfields brasileiro.
Skol Club destaca Howells e Cattaneo
Assim como no palco principal, a tenda Skol Club só foi receber maior público no início da madrugada. Os DJs locais Aninha e Diogo Mazza, assim como o paulistano Júlio Torres, não puderam demonstrar para muita gente a qualidade de seus trabalhos.
Danny Howells iniciou seu set para uma tenda praticamente vazia, que só foi bem preenchida na última hora de sua apresentação. O inglês se mostrou sempre carismático e sorridente para o público, incluindo diversos bootlegs e faixas como “Tribulations”, do LCD Sound System, em remix de “Lindstrom”. Howells passou os toca-discos à Danny Tenaglia encerrando seu set com a faixa “Emotional Content”, de Funk D'Void.
Tenaglia, vestindo seu indefectível boné, saudou o público local através do microfone, do qual fez uso durante boa parte da apresentação. Por pouco mais de quatro horas o norte-americano investiu muito em linhas “darks”, com destaque para o remix de Harry Romero para “Father”, de Anthony Rother. Ao final, restou a impressão de que o long-set de Danny foi bem dosado, dentro do que se esperava, mas sem maiores surpresas. Não se sabe o porque, mas o DJ optou em desligar as câmeras que transmitiam imagens das pick-ups.
Havia uma grande expectativa do público com relação ao argentino Hernan Cattaneo, principalmente em decorrência de suas aparições, nos dois últimos anos, nas dez primeiras colocações do ranking elaborado pela revista DJ Mag. Cattaneo conseguiu aglutinar um público maior na tenda do que aquele que estava conferindo Anderson Noise no palco principal, e teve uma apresentação destacada. Extremamente preciso nas mixagens e criterioso no repertório, o portenho arrancou elogios não só do público, como de boa parte dos DJs locais que estavam acompanhando seu set, privilegiando faixas pouco comerciais e com baixas BPMs.
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