THIAGO NEY
DA REPORTAGEM LOCAL
"Olha, idiotas, sou tão bom quanto qualquer um que trabalhe aí. Então se vocês não publicarem este texto, pelo menos me dêem um motivo." Assim Lester Bangs explicou, em entrevista, como começou a escrever sobre rock, para a "Rolling Stone", em 1969. O texto era uma crítica de "Kick Out the Jams", lendário disco do MC5. Todo mundo falou bem do álbum, menos Bangs. Iniciava ali a carreira do mais influente, imitado e odiado crítico de rock.
Influente porque, mais do que qualquer outro, levou ao texto musical ingredientes literários e estilísticos; imitado porque sua escrita apaixonada, galopante de tão visceral, tornou-se paradigma da crítica; e odiado porque se recusava a fazer concessões, tanto para seus editores quanto para os artistas e os próprios leitores.
"Rolling Stone", "Village Voice", "Los Angeles Times", "New Musical Express", "Playboy" e a extinta revista "Creem" foram alguns dos veículos que publicaram Lester Bangs, e alguns desses textos estão reunidos em "Reações Psicóticas", coletânea da editora Conrad que aterrissa no país em dezembro. É a primeira vez que Bangs é publicado no Brasil.
"Reações Psicóticas" traz oito artigos de Bangs, originalmente organizados em "Psychotic Reactions and Carburetor Dung", obra organizada em 1988 por outro elevado crítico dos EUA, Greil Marcus.
A escrita de Bangs (1948-1982), como demonstram a maioria dos textos em "Reações Psicóticas", era instantânea, em que irônicos e incisivos jogos de palavras pareciam escarrados. O estilo mudou, e no final dos anos 70 seus textos mostravam-se menos crus, menos "na cara", com maior fluência, mais sinuosos.
Traduzir Bangs não foi tarefa fácil. "Seu estilo gonzo, espontâneo, tem trechos complicados. Algumas expressões nem o próprio Simon Reynolds [jornalista britânico que serviu como consultor da edição] conseguia entender perfeitamente", conta Mateus Potumati, da Conrad. "Além disso, alguns termos eram usados em um contexto da época. Foi preciso pesquisar aspectos do período."
O livro traz apêndice com explicações sobre personagens e fatos. O prefácio é assinado pelo italiano Roberto Bui (ou Wu Ming 1).
Influências
Nascido em Escondido (Califórnia), Leslie Conway Bangs morreu em 1982, aos 33, de causas desconhecidas -o laudo que o classificava como "vítima de overdose de medicamentos" fora considerado mais tarde "apressado". De família religiosa, ele fora criado pela mãe -o pai morrera em um incêndio quando Lester tinha nove anos.
A "Rolling Stone" foi quem primeiro deu espaço a Bangs -mas ele seria demitido da revista pelo editor Jann Wenner em 1973 porque seus textos seriam "desrespeitosos aos artistas". Da Califórnia, mudou-se para Detroit e, por último, Nova York.
Ele adorava tanto Blondie, Patti Smith, Iggy Pop quanto o jazzista Charlie Mingus, mas mergulhava na vida e obra desses artistas de forma tão profundamente apaixonada que formulava brigas homéricas com alguns deles, especialmente Lou Reed. Bangs mostrou que um crítico musical, antes de crítico musical, é um fã.
Talvez porque a música não era mais do que um paciente deitado na mesa cirúrgica de Bangs; o manuseio do bisturi fora aprendido com a literatura beat de Jack Kerouac e William Burroughs; com o estilo gonzo de Hunter Thompson, com o new journalism de Gay Talese, Tom Wolfe e Norman Mailer.
Participou de bandas medíocres de rock, gravou com o Clash, foi personagem do filme "Quase Famosos", de Cameron Crowe -interpretado por Philip Seymour Hoffman-, citado em "It's the End of the World as We Know It" (R.E.M.) e "It's Not My Place" (Ramones). Lester Bangs não se colocava em posição superior, mas seus textos eram, muitas vezes, mais interessantes do que o assunto do qual falavam.
Basta uma passada de olho em "Astral Weeks", artigo escrito em 1979 sobre o álbum homônimo de Van Morrison, que está em "Reações Psicóticas" (""Astral Weeks" trabalha não com fatos, mas com verdades. Até onde pode ser definido, é um disco sobre pessoas aturdidas pela vida, (...) atoladas em seus corpos, suas idades e egos, paralisadas pela enormidade daquilo que, num vislumbre, elas conseguem compreender"). Ou -e este não está no livro- em "How to Be a Rock Critic", uma sarcástica espetada no esquematismo e pedantismo de alguns críticos da época.
Mais sobre a vida de Bangs pode ser encontrado em "Let It Blurt: The Life and Times of Lester Bangs, America's Greatest Rock Critic" (2000), biografia escrita pelo crítico Jim DeRogatis.
Mais sobre Bangs com Simon Reynolds, à Folha: "Ele é o crítico de rock número 1 de todos os tempos. Historicamente, Bangs é também importante porque teorizou e escreveu o manifesto do punk rock, antes de o punk acontecer. Considero-o tanto um pensador original como um estilista deslumbrante e exibicionista".
Influente porque, mais do que qualquer outro, levou ao texto musical ingredientes literários e estilísticos; imitado porque sua escrita apaixonada, galopante de tão visceral, tornou-se paradigma da crítica; e odiado porque se recusava a fazer concessões, tanto para seus editores quanto para os artistas e os próprios leitores.
"Rolling Stone", "Village Voice", "Los Angeles Times", "New Musical Express", "Playboy" e a extinta revista "Creem" foram alguns dos veículos que publicaram Lester Bangs, e alguns desses textos estão reunidos em "Reações Psicóticas", coletânea da editora Conrad que aterrissa no país em dezembro. É a primeira vez que Bangs é publicado no Brasil.
"Reações Psicóticas" traz oito artigos de Bangs, originalmente organizados em "Psychotic Reactions and Carburetor Dung", obra organizada em 1988 por outro elevado crítico dos EUA, Greil Marcus.
A escrita de Bangs (1948-1982), como demonstram a maioria dos textos em "Reações Psicóticas", era instantânea, em que irônicos e incisivos jogos de palavras pareciam escarrados. O estilo mudou, e no final dos anos 70 seus textos mostravam-se menos crus, menos "na cara", com maior fluência, mais sinuosos.
Traduzir Bangs não foi tarefa fácil. "Seu estilo gonzo, espontâneo, tem trechos complicados. Algumas expressões nem o próprio Simon Reynolds [jornalista britânico que serviu como consultor da edição] conseguia entender perfeitamente", conta Mateus Potumati, da Conrad. "Além disso, alguns termos eram usados em um contexto da época. Foi preciso pesquisar aspectos do período."
O livro traz apêndice com explicações sobre personagens e fatos. O prefácio é assinado pelo italiano Roberto Bui (ou Wu Ming 1).
Influências
Nascido em Escondido (Califórnia), Leslie Conway Bangs morreu em 1982, aos 33, de causas desconhecidas -o laudo que o classificava como "vítima de overdose de medicamentos" fora considerado mais tarde "apressado". De família religiosa, ele fora criado pela mãe -o pai morrera em um incêndio quando Lester tinha nove anos.
A "Rolling Stone" foi quem primeiro deu espaço a Bangs -mas ele seria demitido da revista pelo editor Jann Wenner em 1973 porque seus textos seriam "desrespeitosos aos artistas". Da Califórnia, mudou-se para Detroit e, por último, Nova York.
Ele adorava tanto Blondie, Patti Smith, Iggy Pop quanto o jazzista Charlie Mingus, mas mergulhava na vida e obra desses artistas de forma tão profundamente apaixonada que formulava brigas homéricas com alguns deles, especialmente Lou Reed. Bangs mostrou que um crítico musical, antes de crítico musical, é um fã.
Talvez porque a música não era mais do que um paciente deitado na mesa cirúrgica de Bangs; o manuseio do bisturi fora aprendido com a literatura beat de Jack Kerouac e William Burroughs; com o estilo gonzo de Hunter Thompson, com o new journalism de Gay Talese, Tom Wolfe e Norman Mailer.
Participou de bandas medíocres de rock, gravou com o Clash, foi personagem do filme "Quase Famosos", de Cameron Crowe -interpretado por Philip Seymour Hoffman-, citado em "It's the End of the World as We Know It" (R.E.M.) e "It's Not My Place" (Ramones). Lester Bangs não se colocava em posição superior, mas seus textos eram, muitas vezes, mais interessantes do que o assunto do qual falavam.
Basta uma passada de olho em "Astral Weeks", artigo escrito em 1979 sobre o álbum homônimo de Van Morrison, que está em "Reações Psicóticas" (""Astral Weeks" trabalha não com fatos, mas com verdades. Até onde pode ser definido, é um disco sobre pessoas aturdidas pela vida, (...) atoladas em seus corpos, suas idades e egos, paralisadas pela enormidade daquilo que, num vislumbre, elas conseguem compreender"). Ou -e este não está no livro- em "How to Be a Rock Critic", uma sarcástica espetada no esquematismo e pedantismo de alguns críticos da época.
Mais sobre a vida de Bangs pode ser encontrado em "Let It Blurt: The Life and Times of Lester Bangs, America's Greatest Rock Critic" (2000), biografia escrita pelo crítico Jim DeRogatis.
Mais sobre Bangs com Simon Reynolds, à Folha: "Ele é o crítico de rock número 1 de todos os tempos. Historicamente, Bangs é também importante porque teorizou e escreveu o manifesto do punk rock, antes de o punk acontecer. Considero-o tanto um pensador original como um estilista deslumbrante e exibicionista".
Reações Psicóticas
Autor: Lester Bangs
Editora: Conrad
Quanto: preço a definir (134 págs.)
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