Febem tem motim, fuga e recorde de feridos
GILMAR PENTEADO
VICTOR RAMOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Cinco dias depois de a Corte Interamericana de Direitos Humanos da OEA (Organização dos Estados Americanos) determinar que o governo brasileiro adote medidas para garantir a integridade física dos internos da Febem no Tatuapé, zona leste de São Paulo, o complexo registrou ontem uma rebelião com um número recorde de feridos no governo de Geraldo Alckmin (PSDB): 24 adolescentes e 31 funcionários, segundo dados da fundação.
É a maior quantidade de feridos em um confronto na Febem desde os tumultos registrados em 1999, quando a instituição viveu sua maior crise. Internos que conseguiram escapar ontem roubaram dois carros e furtaram um terceiro veículo.
Dos 55 feridos atendidos em quatro hospitais, sete continuaram internados. Um funcionário teve o pulmão perfurado e uma psicóloga foi prensada pelos internos contra um portão, quando recebeu chutes e sofreu pequenos cortes de faca, segundo a Febem. Um interno, que teria caído do telhado, estava em estado grave.
Essa foi a 18ª rebelião no Tatuapé desde o começo do ano. Todas as unidades da Febem já somam 34 rebeliões em 2005, seis a mais do que todo o ano passado.
Ontem, a confusão começou às 11h30, quando mais de 300 internos tentaram uma fuga. Um grupo de 61 conseguiu escapar, mas 49 tinham sido recapturados até as 22h. Depois da fuga, internos iniciaram uma rebelião.
Segundo a Febem, o motim teria ocorrido apenas em três unidades. Mas funcionários afirmaram que o motim se espalhou pela maioria das 16 unidade em funcionamento no complexo.
Internos subiram no telhado e fizeram reféns. O coordenador de equipe Guilherme José da Silva, 24, afirmou que estava na unidade 12 quando adolescentes arrombaram a porta de uma sala onde ele e outros funcionários estavam escondidos. Ele foi usado como escudo. "Pelo menos 30 internos me chutavam, me davam pauladas", disse Silva, que sofreu cortes no pescoço e uma luxação no braço.
A rebelião só foi controlada por volta das 13h30. O tráfego no trecho da avenida Celso Garcia em frente ao complexo chegou a ser interrompido por duas horas.
Segundo a Febem, uma sindicância foi aberta para apurar uma possível incitação à rebelião feita pela presidente da Amar (associação de mães de internos), Conceição Paganele, que esteve no complexo no último final de semana. "Junto com outras entidades, falamos com os internos sobre denúncias de espancamentos. Se a Febem não respeita nem as mães, quanto mais os internos", afirmou Conceição.
O recorde anterior em relação ao número de feridos também tinha sido registrado no complexo do Tatuapé. Em maio, 40 agentes e dez adolescentes se feriram.
O resultado do motim de ontem contraria determinação da corte da OEA, que vai investigar, pela primeira vez, denúncia de suposto espancamento ocorrido no Tatuapé em 2004 e 2005. A instância jurídica mais alta no sistema interamericano de defesa de direitos humanos determinou na última quinta-feira que o governo brasileiro adotasse medidas para proteger os internos do complexo.
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