terça-feira, novembro 15, 2005

Jeff Chang diz acreditar no ressurgimento do ativismo

DA REPORTAGEM LOCAL

Leia a seguir a continuação da entrevista com o jornalista Jeff Chang. (AFS)

Folha - Quais foram os momentos mais importantes para o hip hop?
Chang - Além do tratado de paz de 1971, outra grande mudança ocorreu em 1992, durante as brigas de rua em Los Angeles e o acordo feito entre essas gangues. Ambos são eventos-chave, que influenciaram a passagem do hip hop para o pop "mainstream" e o reconhecimento dessa geração.

Folha - Como isso ocorreu?
Chang - A passagem do hip hop para o "mainstream" foi possível em parte pelo fim das brigas entre gangues. Porque os rappers podiam novamente fazer rimas sobre se divertir -veja "Gin & Juice", de Snoop Doog, onde ele fala sobre "descer as ruas fumando e bebendo gim com suco...". Essas músicas, possíveis graças aos tratados de paz, tornaram o hip hop aceitável para o grande público.

Folha - Quais são os artistas mais importantes dessa cultura?
Chang - Há muitos! Mas eu destaco o DJ Kool Herc e Afrika Bambaataa, pai e padrinho do hip hop. Sem eles, o movimento talvez nunca tivesse se espalhado e se tornado tão influente.

Folha - O que o surpreendeu quando estava fazendo o livro?
Chang - Quando comecei as pesquisas sobre as gangues do Bronx, achava que sua história secreta deveria ser muito importante e influente para o início da cultura hip hop. Esse não é um fato conhecido fora da cidade. É uma coisa lembrada quase somente na história oral, como na música "South Bronx", da Boogie Down Productions.

Folha - Hoje, a impressão que tenho sobre o hip hop norte-americano é de que existe dois lados: o "mainstream", onde os rappers falam sobre garotas, carros, e uma espécie de "underground" criativo, com artistas como Shadow e Little Brothers. Isso faz sentido?
Chang - Em parte. Acho que as corporações controlam a distribuição cultural de hip hop mais do que nunca, o que nos faz pensar que há dois tipos diferentes de hip hop -aquele que é quase todo distribuído pelos conglomerados globais e o outro que não é. Isso não é tão simples se falamos sobre o conteúdo das rimas. Conheço muitos rappers do "underground" que falam sobre garotas e brigas e também muitos do "mainstream" que rimam sobre coisas positivas. Tudo isso é hip hop para mim.

Folha - Em uma entrevista à revista americana "XLR8R", o rapper Chuck D. [Public Enemy] disse que acredita no renascimento do hip hop ativista. Você concorda?
Chang - Sim. Isso está refletido em meu trabalho. Estou muito perto das redes globais do hip hop ativista. Elas me dão esperanças de que o hip hop ainda possa ser usado para criar um mundo melhor e mais unido, e vejo isso muito próximo. Estou otimista.

Folha - Qual é a importância da Convenção Política do Hip Hop Nacional, que ocorreu em 2004?
Chang - A NHHPC [sigla da convenção] foi um encontro histórico [em junho], porque foi a primeira vez que jovens de nossa geração de várias partes dos Estados Unidos se reuniram para definir uma agenda política. Como resultado, tivemos 4 milhões de novos eleitores no último ano e mais de 2 milhões deles eram negros, latinos e urbanos -em outras palavras, eleitores de hip hop. Esses números são sem precedentes, e a mídia não fez muito por isso. Para mim, 2004 foi histórico, foi o primeiro em que a geração hip hop literalmente contou.

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